Por anos, o iFood reinou quase soberano no mercado brasileiro de delivery. A plataforma se tornou sinônimo de pedir comida, detendo uma fatia de mercado que beirava o monopólio. Mas, como sempre acontece no mundo dos negócios, o status quo está sendo desafiado — e a notícia mais quente é que o 99Food não só voltou ao jogo, como já demonstra sinais de que pode ter ultrapassado o iFood em vendas diárias em certas praças.
Calma, isso não significa o fim de uma era do dia para a noite. Mas é, sem dúvida, um marco que muda a dinâmica de um mercado que movimenta bilhões de reais anualmente no Brasil. Vamos entender o que está por trás dessa virada e por que isso é uma excelente notícia para todos os envolvidos.
A Estratégia do Desafiante: Taxa Zero e Bônus Agressivos
O 99Food, braço da gigante chinesa DiDi, voltou ao mercado brasileiro com um arsenal pesado: investimento bilionário e uma estratégia de marketing de guerrilha focada em expor as práticas do líder.
A tática é simples, mas eficaz: atacar os pontos fracos da hegemonia do iFood.
- Restaurantes: A plataforma chegou oferecendo taxa zero de comissão por um período (em alguns casos, até 24 meses). Isso devolve uma margem de lucro crucial para os estabelecimentos, que vinham sofrendo com as taxas elevadas do iFood, que chegam a 27%. Para um restaurante, essa mudança de custo é uma revolução no negócio.
- Entregadores: A 99Food prometeu remuneração diária garantida de R$ 250 ao completar um número específico de corridas. Em um setor com alta rotatividade e críticas sobre a remuneração, esse incentivo atrai milhares de motoboys e bicicletas, garantindo a logística que sustenta o crescimento.
- Consumidores: Com restaurantes pagando menos taxa, os preços finais se tornam mais competitivos e os cupons de desconto (subsidiados pelo caixa robusto da DiDi) são agressivos. O consumidor final, com a mesma qualidade de comida a um preço menor, migra naturalmente.
O Impacto: A Competição é a Mão Invisível que Alimenta a Todos
A verdadeira vitória dessa guerra de apps não é de uma empresa ou de outra, mas sim de todo o ecossistema do delivery. A competição saudável é o melhor remédio para qualquer mercado concentrado:
- Para os Restaurantes: Eles ganham poder de barganha. Com duas grandes plataformas sedentas por parceiros, o monopólio de precificação acaba. Eles podem negociar taxas melhores, conseguir melhores condições e, finalmente, ter mais controle sobre o seu próprio negócio digital.
- Para os Entregadores: Os profissionais de entrega agora têm mais opções de onde trabalhar e melhores condições de remuneração. A pressão competitiva força as plataformas a melhorarem as políticas de pagamento e suporte, tirando o peso da insegurança sobre quem está na rua.
- Para os Consumidores (e para o seu bolso): É o ganho mais óbvio. Mais concorrência significa preços mais baixos, mais promoções e melhor qualidade de serviço. O iFood, agora, é obrigado a reagir, seja reforçando seus próprios descontos ou ajustando as taxas, para não perder share.
O Desafio de Sustentar o Fôlego
A grande questão, no entanto, permanece: isso é sustentável?
A estratégia da 99Food de “queima de caixa” (operar com prejuízo no curto prazo para ganhar mercado) é um clássico de startups com grandes investidores por trás. A DiDi tem o bolso fundo, mas em algum momento, a conta chega. Se o 99Food conseguir consolidar uma fatia significativa do mercado e fidelizar restaurantes e consumidores antes de ter que aumentar suas taxas, a mudança será permanente.
O que estamos vendo é a quebra de uma “muralha” que o iFood vinha construindo. A vigilância do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) sobre as práticas de exclusividade e a entrada de players gigantes como a 99Food mostram que o delivery brasileiro está longe de ter seu capítulo final escrito.
Para o empreendedor e o profissional que acompanha o mercado, é um lembrete importante: nunca se acomode. O sucesso de ontem não garante o de amanhã. E, para o consumidor, é hora de aproveitar: seus lanches e jantares provavelmente estão mais baratos hoje por causa dessa briga bilionária.
